Mas uma das coisas que sempre me chamou atenção nessas gestões foi a falta de transparência nos dados financeiros.
Isso fica bem explícito em dois textos publicados por Rodrigo Capelo para a Revista Época.
Na primeira, lançada em 2017 - quando o clube ainda tinha Eurico Miranda como presidente -, o teor de alerta vem logo no título: "afundado em dívidas, um clube em estado de falência". A princípio, um pouco sensacionalista pra mim.
Mas o segundo parágrafo já vem como aviso para quem for ler o texto:
Eurico Miranda em 2018, chegando em evento na ALERJ Foto: UOL |
Dá pra enquadrar essa falta de transparência em muitos aspectos ruins. Uma falta de respeito absurda com o torcedor, que sustenta o clube através de bilheteria, assistindo na TV (cotas), consumindo produtos, sendo sócio, etc. e não pode ficar ciente da movimentação do seu dinheiro investido na instituição.
E além da questão moral, não tem como não pensar que algo está sendo escondido. A leitura do texto até o final evidencia que, talvez, o título da matéria não fosse tão sensacionalista e que o buraco talvez seja BEM mais embaixo. Em camadas do subsolo que ainda não são acessíveis a analistas econômicos, jornalistas... e muito menos para o torcedor vascaíno. Talvez apenas na deep web.
Um ano depois, Capelo publicou outro texto da mesma série: "obscuro e atormentado pela política, o gigante continua a apequenar". Nesse momento, o repórter já contextualiza a chegada de Alexandre Campello. O atual presidente do Vasco teve seus primeiros meses de mandato marcados por polêmicas em relação à venda de Paulinho para o Bayer Leverkusen. Isso custou um apoio político imenso - 13 vice-presidentes entregaram o cargo!
Paulinho e o presidente Campello Foto: Paulo Fernandes/Vasco.com.br |
Bem, em seu texto, Capelo não discorda por completo. Copio e colo, mais uma vez, trechos da matéria dele:
"Campello talvez tenha razão na comparação com balanços anteriores, produzidos pela diretoria do ex-presidente Eurico Miranda. O seu balanço apresenta mais dados do que o mercado está acostumado a encontrar. O que não quer dizer que o clube tenha conseguido nem sequer chegar perto da transparência necessária e prometida. [...] Basta virar mais uma folha para que se chegue ao relatório da BDO, justamente aquela que Campello citou como motivo de credibilidade para o balanço, para que o discurso escrito pelo cartola nas páginas anteriores vire um ponto de interrogação. [... (não vou entrar muito nisso porque o texto já tá longo pra caralho)] O quadro fica pior com o que a auditoria descreve a seguir. Este é um trabalho que funciona do seguinte modo. O clube diz que deve tantos milhões para o governo em impostos não pagos, e a auditoria avalia, a partir das documentações fornecidas por ele, se os números informados estão corretos. Isso não existe no Vasco. A BDO descreve que, até a data de sua publicação, não tinha sequer recebido da diretoria vascaína as documentações necessárias para validar as demonstrações."
Como se não bastasse, para evidenciar ainda mais a falta de transparência no clube, ontem foi divulgado relatório da Análise Itaú BBA, que anualmente, avalia a saúde financeira dos clubes brasileiros. O site GloboEsporte apurou as mais de 200 páginas e fez uma análise para cada clube.
A análise do Vasco já começa com o subtítulo "Relatório que detalha saúde financeira do futebol brasileiro critica 'qualidade ruim das informações' prestadas pelo clube em 2017".
E continua: "De acordo com o estudo, o fluxo de caixa do clube é 'muito difícil de ser fechado' por conta do problema com as informações, além de 'inúmeros ajustes, reclassificações, ressalvas'. Por isso, concluem os analistas do Itaú BBA, é possível 'apenas ter uma ideia' da real situação do Vasco. [...] 'A auditoria encontrou tantos problemas nas informações prestadas pelo clube que se absteve de dar parecer. Isto é uma forte indicação do tamanho do problema que o clube enfrenta'".
Como já argumentado, a falta de transparência é uma completa falta de respeito com os torcedores vascaínos, que apesar do momento ruim, não abandonam de forma alguma. Ele próprio não pode mensurar a real situação que seu time do coração está. Além da cortina que isso pode estar sendo para acobertar sabe-se lá o quê.
Talvez o que eu ache certo seja o Campello convocar uma coletiva para dar uma de Márcio Braga. "ACABOU O DINHEIRO". Que seja. Pelo menos, com os dados à disposição, fica mais claro à torcida, ao eleitorado vascaíno, a jornalistas, analistas econômicos quais medidas evitar e quais tomar para as futuras eleições.
Mas, apesar dos indícios das matérias, fico na torcida para que esses inúmeros problemas enfrentados pelo Gigante da Colina não sejam tão graves assim e que o clube volte, de fato, a figurar nas cabeças.
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